Cristão e Muçulmano tocando alaúde em uma miniatura que reproduz as Cantigas de Santa Maria de Alfonso X. |
http://www.youtube.com/watch?v=7RCM2IeiB00
A música ocidental hodierna tem suas
raízes não nos clássicos gregos e romanos (sua influência sobre a música
medieval existiu, mas dela sobraram poucos resquícios na atualidade), mas no
Canto Gregoriano, também conhecido como cantochão, que foi o canto litúrgico da
Igreja Romana.
http://www.youtube.com/watch?v=Aoj2kGBddRA
http://www.youtube.com/watch?v=Aoj2kGBddRA
Conforme nos relata Otto Maria
Carpeaux, em seu clássico Uma Nova
História da Música (Rio de Janeiro, Editorial Alhambra, 1977, p. 15), nas
melodias do cantochão encontramos, escondidos, fragmentos de hinos cantados nos
templos gregos e dos salmos que acompanhavam o culto no Templo de Jerusalém.
Entretanto, não sabemos sua real proporção de participação nessas melodias. Também
as liturgias que precederam a reforma do canto eclesiástico, empreendida pelo
papa Gregório I (São Gregório Magno) tiveram alguma influência na música
medieval, mas desconhecemos onde ela se deu. Também houve influência da música galicana (igreja francesa, com seus
rituais e suas leis, atualmente desaparecidos), da liturgia e do canto ambrosianos (até hoje cantados em
Milão), da liturgia visigótica ou moçárabe (que sobrevive até hoje em
algumas igrejas de Toledo). Como nos diz Carpeaux, “a única música litúrgica
católica que conta para o Ocidente, é o Coral Gregoriano, a liturgia à qual
Gregório I, o Grande (590-604) concedeu espécie de monopólio na Igreja Romana”.
Os instrumentos
Os instrumentos usados para tocar a música medieval existem até os dias atuais, em formatos diferentes. A flauta era feita de madeira e não de prata, ou outro metal. Podia ser assoprada pelo lado ou pelo fim do tubo. A flauta doce praticamente manteve sua forma atual.
http://www.youtube.com/watch?v=R6aYpeXvEO8
http://www.youtube.com/watch?v=R6aYpeXvEO8
O corno. |
O corno é semelhante à flauta, com buracos para os dedos na sua face frontal. Pertence à família da ocarina, um instrumento de sopro de aproximadamente 12 mil anos.
Ocarina. |
Um dos precursores da flauta foi a flauta de tubos (pan flute), também de origem muito antiga, provavelmente helenística. Ainda é comum nos países andinos. Era feita de tubos de madeira de diferentes comprimentos, muitas vezes de bambu ou uma cana maior, a fim de se produzir sons diferentes. Em representações pictóricas vemos o deus Pan tocando esta flauta, daí o seu nome. É considerada ancestral do órgão de sopro e da harmônica.
http://www.youtube.com/watch?v=6GRLRm9oKUM
A música medieval usa muitos instrumentos de corda, como o alaúde, a mandora (ancestral do mandolin), a guittern (ou guitarra primitiva), o saltério (da família da harpa) e o dulcímero (assemelhado ao saltério) o qual se toca com baquetas. Esses instrumentos foram desenvolvidos pela evolução da tecnologia vinda do Oriente (China, Japão e Índia), bem como do Oriente Médio, a partir do século XIV.
Diversos tipos de alaúdes. |
A mandora, ancestral do mandolin. |
Guittern ou guitarra primitiva. |
Saltério, da família da harpa. |
Dulcímero (similar em sua estrutura ao saltério e a cítara). |
Primeira figuração conhecida da lira em uma caixa de marfim (900 - 1100 a.D.). Museu Nacional de Florença. |
http://www.youtube.com/watch?v=2wOrr9NvlTk&list=PL14078CE37EA6B15D
A lira com arco do Império Bizantino foi o primeiro instrumento com cordas e arco registrada na Europa. O geógrafo persa Ibn Khurradadhbih, do século IX (ca. 911), descreveu a lira Bizantina em seu livro sobre discussão de instrumentos com arco e cordas equivalentes ao rabãb árabe e típico instrumento do período bizantino, ao lado do urghun (órgão), shilyani (tipo de harpa ou lira) e o salandj (provavelmente uma gaita de foles).
http://www.youtube.com/watch?v=613nUS1m3j8
http://www.youtube.com/watch?v=613nUS1m3j8
O hurdy-gurdy foi (e ainda é) um violino mecânico que usa uma roda de madeira atritada com as cordas. Instrumentos como o jaw harp eram populares naqueles tempos. Existiam versões primitivas do órgão, violino (ou viola), do trombone (chamado de sckkbut).
O hurdy-gurdy. |
Gêneros
Houve diversos gêneros musicais na Idade Média: o Canto Gregoriano, Ars Nova, Organum, Moteto, Madrigal, Canon (música) e Ballata. A música medieval podia tanto ser sacra quando secular. Durante o período medieval inicial no gênero litúrgico do Canto Gregoriano predominou a monofonia. Gêneros polifônicos começaram a se desenvolver durante a Alta Idade Média, tornando-se prevalente ao final do século XIII e início do século XIV. O desenvolvimento de tais formas está, frequentemente, associado ao Ars Nova.
http://www.youtube.com/watch?v=iKt2m9-gqYA
Uma das primeiras inovações do canto monofônico deu origem ao canto heterofônico. O Organum, por exemplo, expandiu sobre melodias harmônicas e melódicas sequenciadas usando uma linha de acompanhamento, cantada com intervalos fixos, alternando polifonia com monofonia. Os princípios teóricos do Organum são muito antigos, provavelmente do século I, como a Musica Enchiriadis, que introduziu a tradição de duplicar um canto preexistente em moção paralela com intervalos de uma oitava, chegando à quinta e à quarta.
http://www.youtube.com/watch?v=TuN_c4L0GWk
http://www.youtube.com/watch?v=TuN_c4L0GWk
De grande sofisticação foi o Moteto, que se desenvolveu do gênero Clausula de canto plano medieval e se tornaria a mais popular forma de polifonia. Enquanto os motetos iniciais eram litúrgicos ou sacros, ao fim do século XIII o gênero havia se expandido para incluir tópicos seculares, como o do amor cortês.
http://www.youtube.com/watch?v=CKZ-28Bn81Q
http://www.youtube.com/watch?v=CKZ-28Bn81Q
Durante o Renascimento, o gênero secular italiano do Madrigal também se tornou popular. Similar ao caráter polifônico do moteto, os madrigais desenvolveram grande fluência e movimento na linha de frente. A forma madrigal também deu origem ao Canon, especialmente na Itália onde eles foram compostos sob o título La Caccia. Estas foram peças seculares de três partes, que apresentavam as duas vozes mais altas em canon, com um instrumental subjacente de acompanhamento de longas notas.
http://www.youtube.com/watch?v=b2OwoPgNpts
Ao fim do período medieval desenvolveu-se a música instrumental exclusiva, no contexto de uma tradição teatral crescente e para consumo da corte. As músicas de dança, frequentemente improvisadas em torno de grupos familiares, foi um gênero muito comum e generalizado. A secular Ballata, que se tornou muito popular no Trecento italiano, teve suas origens, por exemplo, em instrumentos medievais de música de dança.
Teoria e notação
Durante o período medieval surgiram as notações que deram origem às atuais e modernas práticas e teorias de notação musical. Foi notável o desenvolvimento de um sistema de notação compreensivo. Os avanços teóricos, principalmente em relação ao ritmo e à polifonia também são importantes para o desenvolvimento da música ocidental.
http://www.youtube.com/watch?v=MjlTLTcM12Y
http://www.youtube.com/watch?v=MjlTLTcM12Y
A música medieval mais primitiva não tinha nenhum sistema de notação. O som era monofônico e transmitido através de tradição oral. Este tipo de notação servia apenas como uma ajuda de memória para um cantor que anteriormente já conhecesse a melodia. Como Roma tentou centralizar as várias liturgias e estabeleceu o rito romano como a tradição fundamental, a necessidade de transmitir a idéia desse canto para grandes distâncias foi muito difícil. O primeiro passo para solucionar este problema veio com a introdução de vários sinais escritos acima dos textos dos cantos, chamados neumas. A origem dos neumas não é muito clara e ainda é motivo de debates. Muitos estudiosos atribuem sua origem aos clássicos gregos e romanos, cujos sinais gramaticais indicavam importantes pontos de declamação ao relacionar-se ao aumento e diminuição do tom de voz.
http://www.youtube.com/watch?v=CKZ-28Bn81Q
Os dois sinais básicos da gramática musical clássica foram o acutus, indicando um aumento da voz, e o gravis, indicando um abaixamento. Eventualmente, eles evoluíram para símbolos básicos de notação neumática, o virga (ou "verga") que indica uma nota mais alta e ainda se parecia com o acutus do qual ele veio, e o punctum (ou "ponto") que indica um abaixamento da nota, e, como sugere o nome, reduziu o símbolo do gravis para um ponto. Deles, o acutus e o gravis podiam ser combinados para representar inflexões vocais gráficas na sílaba. Este tipo de notação não parece ter sido desenvolvido antes do século VIII, mas apenas durante o século IX ele estabeleceu-se como o método primário de notação musical. A notação básica da virga e do punctum permaneceram os símbolos para notas individuais, mas os outros neumas logo se desenvolveram revelando várias notas reunidas em um conjunto. Esses novos neumas - chamados de ligaduras - são essencialmente combinações de dois sinais originais. Esta notação neumática básica podia somente especificar o número de notas e revelar se moviam para cima ou para baixo. Não havia forma de indicar a exata altura do som, qualquer ritmo, ou mesmo a nota inicial. Essas limitações são uma indicação fundamental de que os neumas foram desenvolvidos como instrumentos para apoiar a prática da tradição oral, e não para substitui-la. Entretanto, mesmo que tenham começado como uma mera ajuda para a memória, logo se tornaram evidentes os seus benefícios.
http://www.youtube.com/watch?v=1oR3pXcnsTs&list=PL62E960C66BDD0720
http://www.youtube.com/watch?v=1oR3pXcnsTs&list=PL62E960C66BDD0720
O desenvolvimento seguinte na notação musical foram as "alturas dos neumas", nas quais os neumas eram cuidadosamente colocados em diferentes alturas em relação uns aos outros. Isto permitiu que os neumas dessem uma indicação segura do tamanho de um determinado intervalo, assim como sua direção. Como consequência, rapidamente passou-se a notar uma ou duas linhas, cada uma representando uma nota particular. Sobre elas foram notados na escrita da música todos os neumas relacionados com os seus anteriores. No começo essas linhas não tinham significado particular e, apesar disso, tinham uma letra colocada no início, indicando qual nota foi representada. Todavia, as linhas que indicavam o Dó médio e o Fá uma quinta abaixo, lentamente se tornaram mais comuns. Foram inicialmente desenhadas em pergaminho e, posteriormente, desenhadas com duas tintas coloridas diferentes: geralmente vermelho para o Fá, e amarelo ou verde para o Dó. Este foi o início do conjunto de notas como hoje conhecemos. O conjunto das quatro linhas é habitualmente atribuído a Guido d'Arezzo (ca. 1000-1050), um dos mais importantes teóricos da música na Idade Média. Enquanto fontes mais antigas atribuem o desenvolvimento do conjunto a Guido, alguns modernos estudiosos sugerem que ele agiu mais como um codificador de um sistema que já estava sendo desenvolvido. De qualquer forma, esta nova notação permitiu a um cantor aprender peças completamente desconhecidas para ele em um tempo muito mais curto. Todavia, mesmo quando a notação de um canto tinha progredido de várias formas, um problema fundamental permaneceu: o ritmo. O sistema de notação neumático, mesmo em seu estado completamente desenvolvido, não definia claramente nenhum tipo de ritmo para o canto das notas.
http://www.youtube.com/watch?v=omHQ388lq5k
http://www.youtube.com/watch?v=omHQ388lq5k
A teoria da música na Idade Média passou por diversos avanços em relação às práticas anteriores, tanto nas matérias tonais, na textura e no ritmo.
O
Ritmo
O
ritmo passou por diversas mudanças dramáticas e importantes, tanto na concepção
quanto na notação. Durante o período medieval arcaico (476 d.C.- 1000 d.C.) não
havia método de notação para o ritmo, o que tem levado a acalorados debates
entre os estudiosos. Ao fim da Alta Idade Média (1000 d.C. - 1300 d.C.), no
século XVIII, surgiu o primeiro sistema de notação escrita. Este mapa de ritmos
foi codificado pelo teórico da música Johannes de Garlandia, autor de De
Mensurabili Musica (ca. 1250), o tratado que definiu e elucidou de forma mais
completa esses modos rítmicos. Em sua obra, Johannes de Garlandia descreve seis
espécies de modos, ou seis diferentes caminhos nos quais os longos e os breves
podem ser arranjados. Cada modo estabelece um padrão rítmico em batidas (ou
tempora) dentro de uma unidade comum de três tempora (a perfectio) que é
repetida sempre. Além do mais, a notação sem texto é baseada em cadeias de
ligaduras (as notações características pelas quais grupos de
notas são unidas umas com as outras). O modo rítmico pode geralmente ser
determinado pelos padrões de ligaduras usadas. Uma vez que o modo rítmico tenha
sido assinalado para uma linha melódica, houve geralmente pequeno desvio
daquele modo, embora os ajustes rítmicos pudessem ser indicados por mudanças no
padrão esperado de ligaduras, mesmo até chegar à mudança para outro modo
rítmico.
http://www.youtube.com/watch?v=XgvDBwJwUac
http://www.youtube.com/watch?v=XgvDBwJwUac
O próximo passo à frente
quanto ao rítmo veio do teórico alemão Franco de Colônia. Em seu
tratado Ars cantus mensurabilis ("A Arte da Música
Mensurável"), escrito por volta do ano 1280, ele descreve um sistema de
notação no qual notas diferentemente desenhadas tinham valores rítmicos
inteiramente diferentes. Isso é uma forma extraordinária de mudança do sistema
anterior de Garlandia. Enquanto antes da duração da nota individual podia
somente ser juntado do próprio modo, esta nova relação invertida tornou o modo
dependente e determinado pelas notas individuais ou figurae que
tinham, de forma segura, valores de duração, uma inovação que teve um grande
impacto na história subsequente da música européia. Muitos dos manuscritos
notados e preservados do século XIII usam os modos rítmicos definidos por
Garlandia. O passo à frente na evolução do ritmo veio após a virada do século
XIII com o desenvolvimento do estilo Ars Nova.
http://www.youtube.com/watch?v=D5ubvYqOh1M
http://www.youtube.com/watch?v=D5ubvYqOh1M
O teórico mais reconhecido
deste novo estilo é Philippe de Vitry, famoso por escrever o tratado Ars
Nova ("Arte Nova") por volta de 1320. Esta obra deu seu nome ao
estilo de toda esta era. De certa forma, o sistema moderno de notação rítmica
começou com Vitry, que rompeu completamente com as idéias velhas dos modos
rítmicos. Os predecessores das modernas notações também se originam do Ars
Nova. Este novo estilo foi claramente construído sobre o trabalho de Franco de
Colônia. No sistema de Franco, a relação entre uma breve uma semibreve (que é
meia breve) foi equivalente àquela entre uma breve e uma longa: e, desde que
para ele o modus era sempre perfeito (agrupado em três), a
batida tempusor era inerentemente perfeita e, consequentemente,
continha três semibreves. Algumas vezes, o contexto do modo requereria um
grupo de somente duas semibreves, todavia, essas duas semibreves seriam sempre
uma de duração normal e a outra de duração dupla, ligado a isso tomando o mesmo
espaço de tempo, e assim preservando a subdivisão perfeita do tempus. Esta
divisão ternária levou aos valores de todas as notas. Ao contrário, o período
do Ars Nova introduziu duas importantes mudanças: a primeira foi uma subdivisão
ainda menor de notas (semibreves, poderiam agora ser divididas no minim),
e a segunda era o desenvolvimento da "mensuração". Mensurações podiam
ser combinadas de várias formas para produzir grupos métricos. Esses grupos de
mensurações são os precursores da métrica simples e composta. Nos tempos da Ars
Nova, a divisão perfeita do tempus não foi a única opção já que as
divisões duplas se tornaram mais aceitas. Para Vitry, o breve poderia ser
dividido, para uma composição inteira, ou seção de um, em grupos de dois ou
três semibreves menores. Desta forma, o tempus (o termo que veio para
descrever a divisão da breve) poderia ser tanto "perfeito", (Tempus
perfectus) com subdivisão ternária, ou "imperfeito" (Tempus
imperfectus) com subdivisão binária. De forma parecida, a divisão das
semibreves (chamada prolação) poderia ser dividida em três minima (prolatio
perfectus ou prolação maior) ou duas minima (prolatio
imperfectus ou prolação menor) e, em um nível mais elevado, as
divisões longas (chamadas modus) poderiam ser três ou duas breves (modus
perfectus ou modo perfeito, ou modus imperfectus ou modo
imperfeito) respectivamente.
http://www.youtube.com/watch?v=xwsBuxwbIRY
http://www.youtube.com/watch?v=xwsBuxwbIRY
Vitry avançou mais um
degrau indicando a divisão adequada de uma determinada peça no começo através
do uso de um "sinal de mensuração", equivalente às nossas modernas
"assinaturas dos tempos". O Tempus perfectus foi indicado por um
círculo, enquanto o tempus imperfectus foi assinalado por um meio-círculo
(nosso atual "C" como um substituto para a assinatura do tempo 4/4 é
atualmente um remanescente desta prática, não uma abreviação para "tempo
comum", como popularmente se acreditava). Enquanto muitas dessas inovações
são atribuídas a Vitry, e, de alguma forma, presentes no tratado Ars Nova, foi
um contemporâneo (e conhecido) de Vitry, chamado Johannes de Muris (Jehan des
Mars) que produziu o tratamento mais compreensivo e sistemático das recentes e
inovadoras do Ars Nova. Muitos estudiosos, citando uma falta de evidências de
atribuição positiva, agora consideram o tratado "de Vitry" como de
autoria anônima, mas isso não diminui sua importância para a história da
notação rítmica.
http://www.youtube.com/watch?v=IBZmehsBnNU
http://www.youtube.com/watch?v=IBZmehsBnNU
O estilo do Ars Nova
permaneceu o sistema rítmico primário até os trabalhos altamente sincopados
do Ars subtilior no final do século XIV, caracterizados por extremos
de complexidade rítmica e de notação. Estes sub-gêneros levaram a liberdade
rítmica introduzida pelo Ars Nova até seus limites, como algumas composições
com diferentes vozes simultâneas, em tempus diferentes. A complexidade rítmica
produzida com esta música é comparável àquela do século XX.
A Polifonia
Polifonia,
termo que vem do grego e significa várias
vozes, é uma técnica de composição onde duas ou mais vozes se desenvolvem
mantendo um caráter melódico e rítmico individualizado. É o contrário da monofonia, onde existe apenas uma voz,
ou se existem outras, elas seguem a voz principal em uníssono ou a uma distância
de oitava(s), ou realizam floreios em torno da principal. É diferente da monodia, onde uma voz melódica é
acompanhada ou não de acordes, sem caráter melódico próprio. Ainda também é
diferente da homofonia e do contraponto, onde várias vozes se movem
com ritmo igual ou muito parecido, formando nítidos acordes, que podem ter ou
não um caráter melódico próprio e acentuado.
http://www.youtube.com/watch?v=Y6H9qDXQx_A
http://www.youtube.com/watch?v=Y6H9qDXQx_A
A polifonia teve origem no
fim da Idade Média Arcaica e teve a mesma importância para a história da música
ocidental que as mudanças texturais. Isso levou a formatação da música,
dominada pela harmonia, como hoje a conhecemos. As primeiras referências a este
desenvolvimento textual foram encontradas em dois tratados muito conhecidos de
então, o Musica e o Scolica enchiriadis. Datam da última
metade do século IX. Eles descrevem a técnica que parecia já estar bem
estabelecida na prática da época.
Até então a música era homofônica, ou seja, era uma melodia
única, linear, apenas com um acompanhamento rítmico. A monodia dominou a música
religiosa ocidental com o Cantus Firmus e
o Canto Gregoriano. Por volta do
século X surgiu a idéia de sobrepor vozes em intervalos de oitavas e quintas.
Essa prática se desenvolveu e chegou ao seu apogeu no século XV, com o
contraponto largamente difundido. O contraponto é a técnica de contrapor
melodias, isto é, cantar melodias diferentes ao mesmo tempo. Isso criou uma
resultante musical nova, a verticalidade musical, isto é, notas musicais sobrepostas
que soam ao mesmo tempo. Com o desenvolvimento do temperamento surgiu a harmonia.
http://www.youtube.com/watch?v=ZkY9nnuiXrs